Video Games A Oitava Arte : Uma Reflexão sobre Narrativas, Imersão e Impacto Cultural
- Felipe Bello
- 13 de fev.
- 4 min de leitura
Atualizado: 24 de fev.

A evolução dos videogames desde seus primórdios até os dias atuais coloca essa mídia no patamar das grandes expressões artísticas da humanidade. Considerados por muitos como a oitava arte, os videogames combinam elementos das sete artes tradicionais (cinema, pintura, música, literatura, teatro, escultura e arquitetura) e os expandem através da interatividade, imersão e narrativa ramificada. Vamos explorar como essa forma de arte se compara às demais, destacando seu poder narrativo e a importância das franquias transmídia, aprofundando a discussão com exemplos marcantes.
Comparando Videogames e as Sete Artes do Cinema
A classificação tradicional das artes reconhece o cinema como a sétima arte, pois combina narrativa literária, atuação teatral, música, direção de arte e fotografia. No entanto, os videogames elevam essa integração a um novo patamar ao introduzir a interatividade como parte essencial da experiência. Ao contrário de um filme, em que o espectador é passivo, nos videogames o jogador atua como coautor da narrativa, moldando eventos e explorando o universo criado pelos desenvolvedores.
Exemplo de impacto narrativo:
Jogos como The Last of Us Part II apresentam histórias tão densas e emocionalmente envolventes quanto grandes filmes dramáticos, mas com o diferencial de permitir que os jogadores vivam os dilemas morais de suas personagens. A relação entre Ellie e Abby, permeada por vingança e empatia, leva os jogadores a questionarem suas próprias percepções de certo e errado, algo que poucos filmes conseguem fazer com a mesma intensidade.
Elementos cinematográficos em jogos:
Jogos como Uncharted 4: A Thief’s End apresentam cinematografia que rivaliza com grandes produções de Hollywood, utilizando enquadramentos, iluminação e direção de arte para criar cenas que poderiam estar em um Oscar.
Inspiração nas outras artes:
Jogos como Okami utilizam estética baseada em pintura japonesa tradicional, combinando movimento fluido e cores vibrantes para criar uma experiência que atravessa o limiar entre pintura e videogame.
Narrativas Complexas e Imersão Expandida
Videogames se destacam pela capacidade de oferecer horas ou até centenas de horas de narrativa e gameplay, superando os limites do tempo de tela que um filme ou série pode oferecer. Essa durabilidade permite um mergulho mais profundo na construção de mundos, personagens e histórias.
Narrativa ramificada:
Jogos como The Witcher 3: Wild Hunt permitem que os jogadores tomem decisões que alteram completamente os eventos do jogo. Uma escolha simples, como poupar ou matar um personagem, pode ter ramificações profundas que afetam a política e os destinos das regiões do mundo fictício.
Construção de mundos:
Em Red Dead Redemption 2, o mundo aberto não é apenas um cenário, mas um personagem em si. Cada aldeão tem rotinas diárias, os animais agem conforme os ciclos da natureza e eventos aleatórios criam histórias emergentes que tornam cada jornada única.
Interatividade emocional:
Heavy Rain e Detroit: Become Human, da Quantic Dream, são exemplos de jogos que transformam escolhas emocionais em mecânicas de jogo, colocando os jogadores diante de dilemas morais profundos. Esses títulos são frequentemente comparados a obras literárias e teatrais pelo seu peso dramático.
Franquias e Conteúdos Transmídia: Expansão do Universo Narrativo
Franquias de jogos frequentemente expandem seus universos através de múltiplas mídias, permitindo aos jogadores explorar histórias adicionais em livros, quadrinhos, filmes e séries. O conceito de transmídia consiste na utilização de várias plataformas para contar diferentes partes de uma narrativa integrada, enriquecendo o universo ficcional.
Exemplos de transmídia:
The Witcher: Originalmente uma série de livros, tornou-se uma franquia de jogos que culminou em uma popular série da Netflix. O sucesso do jogo da CD Projekt Red trouxe mais leitores para os livros e alavancou a produção da série, criando um ciclo virtuoso entre as mídias.
Assassin’s Creed: Além dos jogos, a franquia possui livros, quadrinhos e um filme que expandem sua mitologia. Histórias como a de Ezio Auditore são exploradas além do jogo, adicionando camadas à experiência para os fãs mais dedicados.
Cyberpunk 2077: Seu universo foi ampliado pela série animada Cyberpunk: Edgerunners, que explorou personagens e temáticas não abordadas diretamente no jogo, alcançando novos públicos.
Transmídia em franquias clássicas: Franquias como Star Wars demonstram como transmídia pode funcionar em um ecossistema completo. Jogos como Star Wars Jedi: Survivor não apenas complementam os filmes, mas apresentam histórias autônomas que aprofundam o universo galáctico, conectando filmes, livros e séries como The Mandalorian.
Videogames como Produto, Serviço e Arte
O mercado de videogames é dividido em três grandes categorias:
Jogos como Produto: Vendidos como experiências completas, normalmente em um custo único. Exemplos incluem The Legend of Zelda: Breath of the Wild e Elden Ring. Esses jogos priorizam a qualidade e a profundidade da experiência inicial, sendo amplamente reconhecidos por seu valor intrínseco.
Jogos como Serviço: Projetados para evoluir continuamente, com conteúdo adicional sendo lançado ao longo do tempo. Fortnite e Genshin Impact mantêm uma base ativa de jogadores através de eventos sazonais, atualizações regulares e microtransações. Esses jogos têm alto valor comercial devido ao fluxo constante de receita.
Jogos como Arte: Desenvolvidos com foco na experiência estética e emocional, muitas vezes explorando temas profundos. Journey, What Remains of Edith Finch e Gris são exemplos que se destacam por suas propostas artísticas. Gris, em particular, é uma jornada visualmente deslumbrante que explora temas como luto e superação, utilizando uma paleta de cores mutável e design minimalista para transmitir emoções profundas sem o uso de diálogos.
Conclusão
Os videogames são muito mais do que simples entretenimento. Eles combinam elementos de todas as formas de arte anteriores e introduzem uma nova dimensão de interatividade, criando experiências únicas e profundas. Por meio de narrativas ramificadas, universos ricos e sua integração em estratégias transmídia, os jogos se consolidaram como a oitava arte, influenciando a cultura e redefinindo o que significa criar e consumir histórias.
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